No dia 24 de abril de 1961, Caruaru foi palco de um episódio inusitado e de grande repercussão: um comício de solidariedade a Cuba, então sob o governo de Fidel Castro. O ato, que chamou atenção internacional, aconteceu no coreto localizado em frente ao Café Rio Branco, na Rua da Matriz, e foi organizado pelo ativista de esquerda Manoel Messias, junto com o comerciante Abdias Bastos Lé, presidente do Partido Comunista de Caruaru.
O evento atraiu jornalistas e repórteres da influente revista americana Time Life, interessados em apurar possíveis ligações do movimento caruaruense com o regime cubano. Subiram ao coreto para discursar Fernando Florêncio, Celso Rodrigues, Arsênio Martins Gomes, o ex-deputado comunista Davi Capistrano e Manoel Messias.
No entanto, o comício rapidamente descambou para o tumulto. De repente, os oradores começaram a ser alvejados por ovos, laranjas, tomates podres e até bombas juninas lançadas por opositores. O jornalista americano Joseph Mell, da Time Life, teve sua câmera quebrada durante a confusão e, indignado, agrediu um manifestante, sendo posteriormente detido.
Naquele momento, circulavam rumores de que os Estados Unidos planejavam invadir Cuba, o que acirrava ainda mais os ânimos. Muitas faixas exibidas por manifestantes caruaruenses traziam frases como “A luta de Cuba é a nossa luta”.
Apesar de não ter participado presencialmente do comício, o então deputado estadual Drayton Nejaim (UDN), conhecido líder da direita pernambucana, teria incentivado atos de vandalismo contra o evento, conforme se comentava à época.
Dias depois, o bispo diocesano de Caruaru, Dom Augusto de Carvalho, em visita ao Vaticano, assistiu a um documentário sobre manifestações políticas na América do Sul. Para sua surpresa, entre as imagens exibidas, estava a do comício de Caruaru. Um momento que lhe chamou especial atenção foi quando, durante o discurso de Celso Rodrigues, um ovo acertou diretamente sua boca, episódio que marcou a memória do bispo sobre aquele conturbado evento.