Em 1985, a convite do presidente José Sarney, o deputado federal Fernando Lyra, de saudosa memória, assumiu o Ministério da Justiça. Com o Brasil ainda comovido pela morte de Tancredo Neves, Fernando Lyra prometeu colocar um ponto final na censura.
Promessa cumprida. A censura foi extinta e Lyra passou a ser alvo de homenagens em todo o país. Porém, por insistência de diversos amigos, decidiu participar de uma cerimônia no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Na plateia, estavam atrizes, atores, cantores e poetas.
Todos faziam questão de elogiar Fernando Lyra, mas, por outro lado, não poupavam críticas ao presidente Sarney, por sua vinculação com a direita e o golpe militar de 1964.
Lyra, como ministro nomeado por Sarney, tentou defender o presidente. Usando toda sua eloquência, procurou diminuir as críticas à ligação de Sarney com a direita e o golpe militar. O ministro afirmou que Sarney, no Maranhão, enfrentou Vitorino Freire e foi um dos líderes da aliança que elegeu Tancredo Neves.
Por fim, abrindo os braços e com sua voz potente, que lhe era característica, Lyra declarou: “Sarney é a vanguarda do atraso”. O auditório foi à loucura. Lyra foi aplaudido de pé. Só então o ministro percebeu que, ao tentar elogiar o presidente, havia acabado por colocá-lo em uma situação constrangedora. Mas já era tarde para qualquer correção, e os aplausos não cessaram. Não restou outra opção a não ser agradecer os aplausos.
Esse episódio também foi destacado no livro Folclore Político, dos jornalistas Carlos Cavalcante e Jaques Cerqueira.