Há 180 anos se realizava, de 24 a 31 de dezembro a FESTA DO COMÉRCIO, evento que reunia comércio, indústria, igreja e toda a população, para comemorar o período mais bonito do ano – o Natal e o Réveillon.

Os caruaruenses ausentes aproveitavam o período da festa para reencontrar amigos, parentes e conterrâneos. Outros para namorar. Quantos casamentos, bem ou malsucedidos, tiveram como motivo os encontros na passarela da Rua do Comércio, como era conhecida a Praça Cel. João Guilherme! Era realmente o maior evento social de Caruaru, na época, até mais importante do que o São João e o Carnaval.

A Festa do Comércio sempre se realizava sob a supervisão da Associação Comercial, a (ACIC) que escolhia para presidente um comerciante de renome da cidade e com disposição de realizar aquele grande empreendimento e com recursos para uma eventual necessidade.

Naquele ano, a Associação Comercial, presidida por Manoel Torres Galindo, resolveu não mais se envolver com a festa. Por isso, em lugar de um presidente, foi formada uma comissão composta pelos comerciantes Patrício Santos, dono da Patrícia Calçados; Pedro Francisco da Silva, da Eletromóveis, Bibiu do Paraíso das Louças e José Queiroz, gerente das Casas Fernandes Costa.

A TRANSFERÊNCIA DO LOCAL DA FESTA

O grupo pretendia transferir a localização da Festa, da Praça Coronel João Guilherme, para a Rua da Matriz, Avenida Manoel de Freitas e Agamenon Magalhães. Só que Drayton Nejaim o prefeito da cidade não comprou a ideia da mudança de local.

ESTÁVAMOS NO MÊS DE SETEMBRO DE 1980.

Por isso, faltando três meses para o Natal, a comissão aborreceu-se, pela recusa do prefeito e renunciou, deixando os comerciantes apavorados pela possível não realização de tão importante efeméride e responsável pelo aumento do fluxo de turistas e das vendas natalinas.

Diante do grande problema, a Câmara de Dirigentes Lojistas-CDL, presidida por Gilberto Bezerra e sempre preocupada com os maiores interesses do comércio lojista resolveu procurar uma alternativa.                                                        

José Severino do Carmo era o Diretor de Promoção da CDL. E a solução encontrada foi convidá-lo para assumir tamanha responsabilidade, a de presidir e realizar a prestigiada Festa do Comércio do ano de 1980.

Ele aceitou a incumbência, mesmo sabendo que o relógio do tempo trabalharia contra, pois, como visto, a essa altura, já era a segunda quinzena do mês de setembro. Sem contar, ainda, que não dispunha do cacife financeiro dos presidentes anteriores, caso tivesse que arcar com alguma despesa.

DRAYTON CONVIDA JOSÉ SEVERINO AO SEU GABINETE

Ao saber da disposição de José Severino em realizar a festa o prefeito Drayton Nejaim chamou-o ao seu gabinete, na Prefeitura, e o aconselhou a não aceitar a tarefa, renunciar à presidência. Qual a razão, até hoje não se sabe. Coisas de Drayton Nejaim…

A sugestão do prefeito não foi aceita e ele seguiu em frente, mesmo sabendo não contar, àquela altura, com o apoio da municipalidade nem da Associação Comercial.

OUTRO PROBLEMA SURGIU EM SEGUIDA

Com respeito à iluminação, Teixeira, que era o tio-avô da Governadora Raquel Lyra, eletricista que iluminava todo o recinto da festa, inclusive a fachada da igreja, há mais de 30 anos, naquele ano resolveu que não mais faria este trabalho, em função, principalmente de sua idade já avançada. Teixeira, pra quem não sabe, era o avô da Governadora Raquel Lyra e profissional altamente respeitado no ramo. Outro problema para se juntar aos três outros: Preparar, em 3 meses, uma festa daquela envergadura, não contar com o apoio da Prefeitura, nem da Associação Comercial. Agora, com uma festa sem iluminação à sua altura.

COMO DESCASCAR O ABACAXI?

Como, além de funcionário do Banco o Brasil, o presidente da festa era publicitário, diretor da JS Propaganda & Marketing e membro do Lions Clube, bolou uma campanha publicitária em que encerrava afirmando que Festa do Comércio era uma promoção da CDL, do LIONS e da PREFEITURA.

Da Prefeitura? Sim. Mesmo sabendo que o prefeito não apoiava, o propósito é que ele não atrapalhasse. Tanto que ao ver na mídia – Tv Globo em todo o Estado, as 3 emissoras de Caruaru, os jornais locais e o Diário de Pernambuco divulgando o nome da municipalidade, Drayton abiu a guarda, permitindo  que Cláudio Fernandes Neves Soares, Diretor do Departamento de Eletricidade do município ajudasse Boquinha, um antigo auxiliar de Teixeira a cuidar da iluminação da festa, além de pagar à Celpe toda a energia elétrica, consumida durante os dias de festa.

Importante dizer é que toda a publicidade durante 2 meses foi feita totalmente gratuita pelo bom relacionamento de José Severino com os veículos de divulgação.

Sabendo que, agora, a Festa do Comércio iria se realizar o comércio em geral passou a dar total apoio financeiro.

USANDO A CRIATIVIDADE

Como a Coca-Cola tinha fábrica em Caruaru e naquele ano o tema de sua campa a nível internacional era ABRA UM SORRISO, a JS Propaganda criou para o refrigerante alguns pórticos para as entradas da festa com a mensagem ABRA UM SORISO E PARTICIPE DA NOSSA FESTA. O patrocínio foi o suficiente para pagar o cachê das duas bandas musicais – a Comercial e a Nova Euterpe.

Um dos apresentadores dos shows e do pastoril foi o locutor Tony Gel que anos depois se tornaria Deputado Federal, Estadual, Vereador e por duas vezes prefeito de Caruaru.

Resumindo: a Festa do Comércio de 1980 foi uma grande festa, realizada, entre trancos e barrancos com a participação e colaboração da comunidade.

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