Em 1963, o então prefeito de Caruaru, João Lyra Filho (UDN), enfrentou um episódio inusitado e tenso. Durante uma audiência com servidores municipais, um grupo de funcionários reivindicou um aumento de 100% em seus salários. O prefeito, no entanto, argumentou que os pagamentos estavam em dia e que só poderia conceder 50% de reajuste, para evitar atrasos salariais, como ocorria nas gestões anteriores.

Foi nesse momento que um militante de esquerda, conhecido como “Jurandir, o Terror”, tomou simbolicamente as chaves das mãos do prefeito e fechou a sede da Prefeitura Municipal. Surpreso com a situação, João Lyra Filho se retirou do local e seguiu para sua residência.

O caso teve repercussão imediata. O radialista Edécio Lopes, da Rádio Cultura do Nordeste, foi até a casa do prefeito e, utilizando o telefone de sua residência, realizou uma entrevista exclusiva com ele, levando os fatos ao conhecimento da população.

A situação gerou comoção. O comerciante Armando da Fonte, então presidente da Associação Comercial de Caruaru, manifestou solidariedade ao prefeito, acompanhado de outros empresários locais. A maioria dos servidores municipais também apoiou João Lyra Filho.

Diante do impasse, o prefeito designou Edécio Lopes para uma missão urgente: viajar ao Recife e solicitar reforço policial para garantir a reabertura da Prefeitura. Naquele momento, o governador Miguel Arraes estava em Brasília, tratando de assuntos administrativos, e o vice-governador Paulo Guerra exercia o governo do Estado.

Ao ser informado do episódio, Paulo Guerra enviou uma comunicação por rádio ao tenente Ferraz, delegado de Caruaru, determinando a atuação da Polícia Militar para restabelecer a ordem. A presença dos policiais garantiu a retomada das atividades na Prefeitura e a normalidade foi restabelecida.

Logo após o ocorrido, o presidente do Partido Comunista em Caruaru, Abdias Lé, procurou o prefeito João Lyra Filho e declarou: “O Partidão votou no senhor para prefeito e não vai haver movimento de esquerda contra a administração municipal.”

O caso ganhou ainda mais repercussão quando o deputado estadual Drayton Nejaim, cotado para suceder João Lyra Filho na Prefeitura, concedeu entrevista à Rádio Cultura. Na ocasião, afirmou que o atual prefeito era um homem pacato, o que teria facilitado a agitação política. Nejaim destacou que, se eleito, colocaria segurança armada na sede da Prefeitura, com revólveres e rifles — algo que, de fato, se tornou realidade após o Golpe Militar de 1964 quando ele era prefeito de Caruaru.

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