O presidente João Figueiredo revelou que setores da Linha Dura do Exército planejaram provocar uma confusão violenta durante o retorno de Miguel Arraes ao Brasil, que poderia resultar em feridos e até mortos. A ideia seria infiltrar agentes dos órgãos de informação entre os simpatizantes que se reuniriam para recepcioná-lo no saguão do aeroporto do Rio de Janeiro, incitando um tumulto generalizado.

O objetivo da ação era transferir a culpa pela confusão — e por eventuais tragédias — para o próprio Arraes e para um suposto radicalismo de esquerda, atribuído à sua volta. A manobra tinha como intenção dificultar o processo de abertura política em curso no país.

Diante dessas informações, uma estratégia delicada foi montada para garantir a segurança do ex-governador de Pernambuco. Assim como aconteceu no retorno de Leonel Brizola, a chegada de Arraes ao Brasil foi cuidadosamente planejada para evitar confrontos.

Embora tenha desembarcado inicialmente no Rio de Janeiro, Miguel Arraes seguiu diretamente para a cidade do Crato, no Ceará, sob o pretexto de visitar sua mãe, Benigna Arraes, e suas irmãs. Evitou, assim, atos públicos naquele momento e não se dirigiu diretamente ao Recife. Só no dia seguinte, Arraes aterrissou discretamente na capital pernambucana, a bordo de um pequeno avião, desembarcando no aeroclube da cidade, sem a presença de apoiadores.

Seu primeiro ato público aconteceu no bairro de Santo Amaro, em Recife, onde discursou para uma multidão estimada em 50 mil pessoas. No retorno ao país, Arraes adotou um tom conciliador, evitando qualquer sinal de revanchismo que pudesse ser explorado pela Linha Dura.

Em sua primeira agenda no Rio de Janeiro, encontrou-se com diversas personalidades e líderes sindicais, mas manteve uma postura cautelosa, fiel à estratégia que garantiu o sucesso de seu retorno pacífico ao Brasil.

O relato faz parte do livro A Biografia de uma Presidência.

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